Rua de Nova Holanda, comunidade do Complexo da Maré
Engana-se quem pensa que o principal hit da maior favela do Rio é o som
do disparo do fuzil. Ao menos naquela semana de meados de julho, dentro
de cada casa, em cada janela, a cada balcão de bar, padaria, farmácia ou
quiosque, a música que dominava as TVs da favela era o recém-falecido
cantor americano Michael Jackson. Se me perguntassem qual é a trilha
sonora de minha experiência no Complexo Maré, nada de pancadão. É
Thriller!
Com tantas TVs espalhadas pela favela (estima-se 35 mil
televisores em todo complexo) não fica difícil imaginar que a maior
parte dos moradores tenha uma renda superior a um salário mínimo.
Segundo uma pesquisa de 2004, realizada pela ONG Observatório de
Favelas, 60% da população da Maré ganha em torno de dois salários
mínimos por mês.
Cai a noite e as 35 mil TVs aumentam o volume,
mais gente na rua, mais música alta, mais bola rolando, mais criança,
mais arma na cintura, no pescoço, mais moto, muito mais moto. Aliás,
este é o principal meio de transporte da favela. São motos de todos os
tipos, marcas e cilindradas, sem dúvida, o sonho de consumo dos
moradores da Maré. Com tanta moto o tempo todo não é de estranhar os
altos índices de vítimas do trânsito no Complexo da Maré. Por ano, 23,84
pessoas (em números absolutos) morrem em acidentes envolvendo motos e
carros nas ruas da favela. Se contarmos apenas as vítimas não fatais,
esse número sobre para 358,83. Pois isto é, sem dúvida, um problema para
quem vive ali.
Mas a vida pede passagem. Música de dia, de
noite, bicicleta, homens jogando baralho na calçada, mulheres jogando
dominó, grande parte desta efervescência social intensa nas 24 horas do
dia pode se explicar em um organizado desregramento que origina essa
renda de dois salários mínimos para 60% dos moradores.
"Um dado
importante da Maré, quando falamos da renda e da rotina de cada um ali, é
que a atividade informal é extremamente significativa para os moradores
de favelas", explicou Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré,
uma das principais ONGs atuantes ali dentro. Fato que explica muito bem o
cenário de uma comum terça-feira, onde a atividade lúdica de cada um
caminha em harmonia ao lado das responsabilidades, horários e prazeres
daqueles que mostram na cara que viver feliz na favela é possível.
Fonte ::
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4319629-EI5030,00-Trilha+sonora+do+gueto+TVs+motos+e+Michael+Jackson.html::
MJ é sempre muito querido e lembrado por todos aqui no Rio e em outros Estados e Países *-* !